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História e construção do Santuário

A Igreja é levantada em memória de um milagre do Senhor Jesus e começou a ser construída no ano de 1732. As obras iniciaram-se com as esmolas recolhidas pela Confraria do Senhor Jesus. Em 1750, o interior do edifício estava concluído, faltando no exterior as torres e o gradeamento da galilé superior, terminados já no final do século XIX, por intervenção do arquitto Korrodi. A direcção dos trabalhos esteve a cargo do mestre José da Silva, do Juncal, substituído em 1750 pelo seu filho Joaquim, que foi o responsável pela frontaria e pela galilé do templo. Neste mesmo ano de 1750 no mês de Junho, esta igreja foi erecta freguesia, com a respectiva provisão de pároco. Desconhece-se o autor do projecto da igreja. Fosse quem fosse estava familiarizado com as obras da Basílica de Mafra. A própria frontaria do templo dos Milagres parece decalcada do modelo da Basílica. Duas torres sineiras enquadram uma fachada de cinco vãos, sendo aqui o arco mais largo e abatido. No piso superior abrem-se cinco janelões. Lateralmente há dois claustros, de sete arcos com portas para o interior da igreja, esta é de uma só nave. A zona dos altares encontra-se separada do resto da nave por um cancelo de balaústres de calcário. A cúpula é caiada e muito funda. As janelas, quadradas, abertas na capela-mor sob a cornija apresentam-se entre superfícies de mármore preto. Alguns nichos e mísulas com estatuária animam as paredes da capela-mor. A toda a volta, painéis de azulejos setecentistas fabricados no Juncal em 1795 pelos ceramistas Silva e Sousa, netos do mestre José da Silva.


Arquitectura:

De cunho marcadamente barroco, oferecendo um acentuado contraste entre a horizontalidade do frontispício e a verticalidade do frontão e das torres, a traça e construção da igreja, remonta à terceira década de Setecentos, e é da responsabilidade dos arquitectos regionais José e Joaquim da Silva Coelho, do Juncal. A galilé alpendrada, que se abre na frontaria e percorre os flancos, as robustas torres sineiras, que cingem o corpo central, e o frontão recortado conferem beleza ao edifício, envolvido por um amplo adro com escadório. O segundo piso é aberto por janelões de peito de moldura e frontão recortado separados por pilastras que delimitam os arcos do piso inferior.

O interior do templo de uma só nave de pavimento lajeado e cobertura em abóbada de lunetas, e a capela-mor abobadada com camarim e trono, revelam, no material predominante (mármore com embutidos em tons preto e rosa), nos painéis de tela, no revestimento azulejar (da oficina Silvas e Sousas, do Juncal), nos dois púlpitos de balaustres, adossados ao paramento da nave, ambos baldaquinados, o gosto dos finais do século XVIII.


Os azulejos do Juncal:
Há alguns anos publicou Maria Filomena Silva Martins um excelente livro sobre "Os azulejos do Juncal" onde, além da descrição e estudo dos vários painéis que se encontram nos Milagres escreve: "Do final do século XVIII são os azulejos da igreja dos Milagres, estes da autoria de José Rodrigues, sem dúvida, uma vez que ele próprio os assina e data de 1795 (...). Aqui, José Rodrigues optou, na capela-mor, por dar relevo à inscrição a azul sobre fundo branco, contendo a história do milagres que levou à construção do templo, num emolduramento de vários tons de azul. Esses conjuntos assentam sobre fundos marmoreados de que ressalta o amarelo. Já os do corpo da igreja, todos iguais, formam diversos desenhos a azul vinoso, diferentes de todos os outros deste género. Aqui os sombreados e os riscos mais ou menos carregados dão ao conjunto um aspecto visual muito agradável. Os azulejos dos Milagres foram, decerto, dos últimos a ser executados pelo fundador da Fábrica do Juncal (...)."

"A majestade de tão sumptuoso edifício, o seu ar grave e pesado de monumento em que as cantarias se acumulam como nos templos medievais, as suas arcadas e varandas, tudo concorre para que a imaginação popular e mesmo os mais letrados atribuam ao templo uma origem que se perde na noite dos tempos."
Padre Lacerda, em 1913.

Parte da
CRONOLOGIA
1728 - Milagre da cura de Manuel Francisco Maio;
1730 - Colocação de um ex-voto no sítio onde sucedera o prodígio;
1732 - Há já uma ermida no local;
1733/1735 - Regista-se um período de grandes despesas com pagamentos de matéria-prima e respectivo transporte para a edificação do santuário;
1736 - A igreja diocesana recorre ao estaleiro de Mafra, de onde saem o mestre arquitecto José da Silva Coelho e outros oficiais como José Ribeiro e André Coelho;
1747 - Substituição do Mestre José da Silva por seu filho Joaquim da Silva Coelho;
1750 - A freguesia é desanexada da de Regueira pelo Bispo D. Frei João de Nossa Senhora da Porta;
1795 - Azulejos das oficinas do Juncal com extensa legenda do milagre que deu origem ao monumento.

BREVES APONTAMENTOS

livro_apontamentos"Breves apontamentos para a história da fundação da igreja do Senhor Jesus dos Milagres no Concelho de Leiria", é o nome de um livro escrito pelo Padre José Ferreira de Lacerda, impresso em Agosto de 1913 pela Tipografia Leiriense. Constam neste, uma série de registos dedicados "aos devotos do Senhor Jesus dos Milagres e a todos aqueles que, por ocasião dos festejos, que anualmente são feitos em honra do mesmo Senhor, acorrem à sua Igreja em piedosa romaria...". O livro tem 65 páginas e é dividido por vários capítulos, fala de doze manuscritos: cinco livros de receita, um livro dos termos, três livros de despesas, um livro dos confrades e dois livros das missas. Existiam mais registos que desapareceram devido as invasões francesas. "Deixaram fundos vestígios da sua passagem nesta freguezia os francezes, por ocasião da invasão. Queimaram o registo paroquial, partiram o naris a todos os anjos que se encontravam nos ornatos dos pulpitos e nas horas d`ocio do roubo e da pilhagem entretinham-se a quebrar as quinas das colunas que sustentam os arcos. Triste divertimento! Desapareceram todos os ornatos do templo, como damascos, sedas, joias e a igreja ficou tão pobre que nem uma pálida figura era da grandeza d`outrora." Este livro também fala da origem dos Milagres "... a que o povo chama Sitio. Local ermo e deserto, vegetava ahi unicamente a urze, o tojo e outros arbustos, onde os rebanhos vinham pastar..." Sabemos através dos registos que as obras do Santuário do Senhor Jesus dos Milagres foram dirigidas pelo mestre José Silva até Junho de 1750, mês em que a freguesia dos Milagres foi erecta, vencia na altura "... o jornal de 350 réis...", nesse "... ano foi substituído por seu filho Joaquim que tomou de empreitada as varandas e frontespicio da igreja vencendo quando não trabalhava de empreitada a jorna de 300 réis. Manuel Francisco Mayo, que trabalhou sempre na construção, ganhava 100 réis e trabalhava ainda em 1761, assistindo pois à creação da freguesia. Quantas vezes não teria ele narrado o que lhe acontecera!" Os breves apontamentos escritos pelo Padre Lacerda são ainda hoje uma forma de dar a conhecer a origem dos Milagres, registos que devemos preservar e manter no tempo.
Livro reeditado em junho de 2007 pela Fábrica da Igreja.